Artur Lima denuncia: Hospital da Terceira não dá seguimento a caso de tuberculose por falta de dinheiro

O Presidente do Grupo Parlamentar do CDS-PP Açores, Artur Lima, denunciou, esta quarta-feira, que “por tricas entre unidades de saúde” e “por falta de pagamento” o Hospital Santo Espírito da Ilha Terceira não deu seguimento a “um caso grave de saúde pública”, nomeadamente um surto de tuberculose registado no Estabelecimento Prisional e que terá afetado reclusos, guardas prisionais e famílias.

Num Debate de Urgência sobre o Serviço Regional de Saúde, suscitado pelo CDS-PP, Artur Lima disse que o “caso se arrasta, desde abril de 2016”, não se sabendo quais os resultados das colheitas de sangue efetuadas “porque, por falta de pagamento, o Hospital nunca mandou as amostras de sangue para o Instituto Ricardo Jorge fazer as análises”.

Segundo documentos a que teve acesso, o Líder Parlamentar popular insistiu “na gravidade” da situação, esclarecendo que “o Hospital não tinha kit’s para conservação do sangue, por quebra do protocolo que tinha com o Instituto Ricardo Jorge, por falta de pagamento e pagamentos em atraso”.  

Para além desse caso na Terceira, Artur Lima denunciou outro caso “grave” com uma utente do Hospital da Horta que aguarda “há quase um ano” por uma cirurgia ao coração, sem que a unidade hospitalar lhe defina o seu grau de urgência: “Esta família está desesperada. O filho desta senhora já escreveu ao Secretário da Saúde e ao Presidente do Governo e não obteve qualquer resposta. Vê a sua mãe naquele estado e recorreu agora aos Deputados a ver se o seu problema é resolvido”.

Aliás, no âmbito das cirurgias ao coração, que não são feitas sequer nos Açores, Artur Lima questionou a tutela sobre o facto de, por ano, “só serem contratualizadas 60 operações com entidades prestadores”, quando, por exemplo, no caso do Faial “a utente era a n.º 48 de uma lista superior a 70 doentes. Se só se contratam 60 cirurgias significa que o doente 61 vai morrer à espera de nunca ser chamado?”.

Numa análise aos principais problemas que afetam o Serviço Regional de Saúde, o CDS apontou baterias às listas de espera, às “tricas” entre unidades de saúde, à referenciação hospitalar, às imposições administrativas para poupar em material clínico e à obrigação, por falta de verbas, de colocar os doentes internados a comprarem os seus próprios medicamentos.

“As listas de espera para cirurgias são outro problema muito sério para o qual o CDS-PP já deu, por diversas vezes, o seu contributo construtivo. O que não compreendemos, nem aceitamos, é que o Governo não faça uso efetivo e total dos instrumentos ao seu dispor como foram o Vale Saúde e agora o SIGICA. É inadmissível que com um novo quadro legal regulamentado ainda não haja resposta para situações que potencialmente podem colocar em risco a vida dos doentes”, afirmou Lima.

“Atualmente os nossos hospitais não realizam e devolvem exames pedidos pelos centros de saúde, porque, alegadamente, as Unidades de Saúde de Ilha não pagam; e os doentes padecem! E, há casos, em que padecem de doenças graves para os próprios e para a família em que por falta de entendimento entre o Centro de Saúde e o Hospital não se realizam os devidos exames chegando ao extremo de se por em causa a saúde pública, negligenciando o tratamento atempado e eficaz de determinadas patologias”, prosseguiu.

“Hoje temos hospitais sem medicamentos para os doentes, obrigando, muitas vezes, os internados a recorrerem às farmácias para adquirir os remédios do seu bolso. Hoje temos unidades de saúde que, por imposição administrativa da SAUDAÇOR, recebem produtos e materiais clínicos de duvidosa qualidade, atendendo-se apenas ao preço, numa demonstração de total desprezo pelo conforto e sofrimento dos doentes”, criticou.

Por outro lado, Artur Lima salientou ainda que “continuam as dificuldades acrescidas para os Açorianos residentes em ilhas sem hospital”, apesar de o anterior titular da pasta da Saúde ter anunciado o fim do sistema de referenciação hospitalar. No entanto, exemplificou, “a Unidade de Saúde de Ilha das Flores só desloca doentes para o Faial e se o doente quiser tratar-se em Ponta Delgada é obrigado a pagar do seu bolso a diferença da passagem aérea. Chamo a isso mesquinhez”.

Em conclusão, lamentou, “infelizmente assistimos, hoje em dia, aos doentes e seus familiares a fazerem desesperados apelos aos governantes e deputados para que as suas aflitivas situações sejam resolvidas”.

 

Hospital da Terceira

“é mau exemplo”

 

Focando-se no Hospital da Terceira, “a joia da coroa, inaugurada em 2012, pelo PS”, Artur Lima apontou dificuldades e gestão e de planeamento: “Na Ilha Terceira construiu-se um novo Hospital. Esperavam-se mais e melhores cuidados de saúde. Mas só uma casa nova, não resolve velhos problemas! Nos últimos 4 anos o Hospital da Terceira teve 5 Presidentes do Conselho de Administração”.

“A atual Presidente saiu, em 2013, depois de fecharem serviços relevantes, como o caso injustificável do Serviço de Cardiologia e da Unidade de Cuidados Coronários (mesmo contra os pareceres técnicos e científicos da Sociedade Europeia de Cardiologia e do Colégio de Cardiologia da Ordem dos Médicos), com graves prejuízos para os utentes e piorando os cuidados assistenciais aos doentes internados, como hoje se verifica. Quem se lhe seguiu foi demitido pela tutela. Entrou então uma nova Administradora – batizada pelo PS como a ‘Dama de Ferro’ – que não conseguiu resistir aos lobbies internos e, mais uma vez, foi demitida pelo Governo. Quem lhe sucedeu teve melhor sorte; em vez de ser demitido pelo Governo, foi promovido a governante, voltando assim a velha senhora, que já tinha saído, em 2013, para dar lugar aos mais novos”, ironizou.

O recente caso das cirurgias canceladas voltou à baila com o Líder Parlamentar democrata-cristão a estranhar que a unidade hospitalar “não tenha um sistema de redundância para esterilização de material” e denunciando que “o autoclave do Centro de Saúde da Praia também está com problemas”

Em síntese, Artur Lima apelou à “coragem” no novo titular da pasta da saúde para resolver este tipo de problemas, tendo sempre por base que “os doentes dos Açores merecem melhor e mais saúde, mas, sobretudo, merecem o respeito pela sua condição de doente. Termino, citando uma frase de um ilustre Terceirense, que me foi dita por um familiar: ‘Para se estar doente na Terceira é preciso ter muita saúde’”.

 

Horta, 18 de janeiro de 2017